O Bulldog, especialmente o Bulldog Francês é uma raça predisposta a alergias ambientais ( ácaros e pólenes ) também chamada atopia . Normalmente esta alergia manifesta-se entre os 6 meses e os três anos de idade . Os cães lambem com insistência as patas da frente e por vezes as traseiras , coçam e esfregam o focinho e também em muitos casos as zonas das axilas e virilhas . Têm otites frequentes e a pele vermelha .
As medicações pouco resultam ou assim que se param, a inflamação da pele e dos ouvidos e a comichão voltam . De facto, estas alergias não têm cura mas têm tratamento e controle . Estes cães alérgicos sofrem porque se estão sempre a coçar, muitas vezes, ao ponto de se ferirem a eles próprios.
E claro que é altamente frustrante e provoca-nos uma sensação de impotência a nós como seus cuidadores.
Após um exame clinico cuidadoso e a realização de citologias da pele ( exame ao microscópio, geralmente feito pelo dermatologista na clínica ou no hospital ) para descartar outras doenças, parasitas, ou infecções secundarias por bactérias, fungos ou leveduras ) , a existência de lesões típicas , em locais específicos e despiste de alergias alimentares permite um diagnóstico clínico de atopia.
Quando chegamos a um diagnóstico clínico, é aconselhável, se o cão tiver mais de 1 ano de idade, fazer um painel alérgico para identificar os alérgenos a que é sensível e assim podermos mandar fazer um tratamento de dessensibilização (“uma vacina“). Este tratamento já existe sob a forma oral, uma ou duas gotas que se administram facilmente em casa, e proporciona bons resultados em cerca de 80% dos casos. Geralmente dura 2 a 3 anos e podemos conseguir que o cão fique livre de sintomas ou com sintomas muito mais ligeiras durante vários anos. Este tratamento é o mais seguro, pois não estamos a administrar medicamentos que podem ter efeitos secundários.
Nos 20% por cento, dos cães em que o tratamento de dessensibilização não funciona ou naqueles que não conseguimos identificar os alérgenos responsáveis, no painel alérgico, teremos que usar medicamentos por via oral ou injetáveis para controlar a inflamação e a comichão. Existem hoje drogas altamente eficazes, com menos efeitos secundários que as cortisonas e que se podem usar de uma forma segura.
O tratamento adjuvante através de banhos frequentes com champôs adequados que reforçam a barreira cutânea, diminuem a comichão, desinflamam a pele e controlam o crescimento de bactérias e leveduras (Estafilococos e Malassezia) são muito úteis.
É um mito que o excesso de banhos faz mal à pele. Os humanos tomam banho todos os dias e têm uma pele mais sensível. Tudo depende do tipo de champô utilizado .
É muito importante ainda, que o cão tenha uma dieta de qualidade e que todas as variações de fonte de proteína e de tipo de ração sejam feitas com calma, para perceber se o cão é também sensível a determinado alimento .
O que não se deve fazer é usar os mesmos medicamentos que o cão do vizinho fez porque o cão dele se coçava ou porque tinha um problema de pele parecido . É conveniente consultar um Veterinário familiarizado com problemas dermatológicos e fazer testes de diagnóstico. E claro, ter paciência e compreender que estamos a lidar com um problema crónico, que não tem cura, que por vezes piora, mas que é possível controlar, proporcionando uma vida com qualidade ao animal, sem comichão, sem perda de pelo exagerada e sem feridas constantes.
Rui Ferreira de Almeida
Director Clínico do Hospital Vetoeiras HVCLC
Responsável pela Área de Dermatologia do Hospital Vetoeiras HVCLC há 25 anos

Licenciado pela FMV-UTL em 1990, exerce clínica de animais de companhia desde 1991, fazendo urgências desde 1993. Participa frequentemente em congressos de Medicina de Animais de Companhia.
Áreas de interesse em Medicina: Dermatologia, Comportamento Animal, Anestesiologia, Medicina Interna