O tratamento das convulsões divide-se em duas partes: o tratamento em SOS quando o seu animal de estimação apresenta um ataque epiléptico (tem como objectivo parar as manifestações do ataque), e o tratamento de manutenção, que tem como objectivo diminuir o número de crises e a sua gravidade.
No caso de ser a primeira vez que o seu animal apresenta uma convulsão, tenha em atenção os seguintes pontos:
– Mantenha a calma;
– Não tente abrir a boca ao seu animal;
– Se estiver num local onde se possa magoar, tente colocá-lo num local confortável, com pouca luz e som, deslizando-o. Se se tratar de um animal de médio/grande porte, coloque uma almofada/manta, de forma que ele não sofra traumatismos;
– Após a convulsão, repare no estado de consciência e na forma como caminha. Alguns animais podem ficar temporariamente cegos, e não reconhecer o dono, podem cambalear e embater em objectos. Dê-lhe tempo para recuperar, não o chateie.
– Ligue para o seu veterinário habitual: ele irá dar-lhe todas as indicações necessárias, incluindo a medicação a realizar em SOS num futuro episódio.
Tratamento SOS
O ataque epiléptico pode ocorrer em qualquer altura do dia, quer o seu animal esteja sozinho ou acompanhado, em casa ou na rua. Esse é o primeiro ponto que temos de ter em conta, de modo a podermos estar preparados caso aconteça. Assim, qualquer tutor de um animal epiléptico deverá fazer-se sempre acompanhar de medicação anticonvulsiva SOS, para num primeiro momento poder ajudar o seu animal, até que possa deslocar-se ao centro veterinário.
O Diazepam é o fármaco mais usado para o tratamento de SOS, encontrando-se disponível em ampolas rectais, que podem ser administradas facilmente enquanto o animal tem uma convulsão. É a forma mais rápida segura de administrar qualquer medicação ao seu animal nesta altura, uma vez que ele está com tremores generalizados e/ou alterações de consciência, e poderá mordê-lo no caso de tentar administrar alguma medicação por via oral.
Não obstante, a escolha do tratamento SOS é selecionado pelo seu veterinário, tendo em conta várias variáveis, incluindo a presença de patologias concomitantes, como doença hepática ou reacções medicamentosas prévias.
Tratamento de manutenção
Após a realização de vários exames (falados no mês passado, em “Epilepsia em cães e gatos: Protocolo Diagnóstico” https://animaltalks.pt/2019/04/epilepsia-em-caes-e-gatos-protocolo-diagnostico/ ), seu veterinário irá determinar a necessidade de tratamento e qual o tratamento a realizar: doenças específicas requerem medicação específica. Hoje falaremos apenas do tratamento standard para Epilepsia.
Alguns dos fármacos mais comummente usados no controlo da Epilepsia são o Fenobarbital, a Imepitoína e o Brometo de Potássio, que podem ser usados como terapia única ou em conjugação uns com os outros. No caso do Fenobarbital e Brometo de Potássio pressupõe-se a realização de análises sanguíneas regulares, quer para controlar a quantidade necessária de medicação a realizar como para monitorizar possíveis efeitos secundários.
Usam-se ainda fármacos como o Levetiracetam, a Gabapentina e a Zonisamida, em associação com os reportados anteriormente, no caso de não se conseguir um bom controlo das convulsões.
Para além da terapêutica farmacêutica existem outras opções que ajudam a controlar a epilepsia, não devendo ser, no entanto, usadas como monoterapia:
– A alteração da dieta do animal;
– Terapias como acupuntura e homeopatia;
– A castração dos animais: diminui o stress e as variações fisiológicas associadas ao cio ou ao comportamento de acasalamento.
Como nota final, devemos ter sempre em atenção que a Epilepsia é uma doença crónica, com possibilidade de controlo, mas, frequentemente sem tratamento. O seu animal poderá ter que experimentar várias medicações e vários ajustes de dose, até que o seu veterinário considere que está controlado (ou seja, que apresenta um número mínimo e inócuo de episódios convulsivos). Ainda, a medicação anti-convulsiva está associada a alguns efeitos secundários, que lhe serão explicados na altura da prescrição, pelo seu médico veterinário. A medicação efectiva num animal poderá não funcionar noutro. Por todas estas razões, o tratamento da epilepsia pode ser frustrante, tanto para o dono, como para o veterinário.
Vânia Evaristo
Médica Veterinária
Hospital Referência Veterinária Montenegro

Mestre em Medicina Veterinária pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em 2014. Realizou estágio curricular no Centro Veterinário Arca Real em Valladolid (Espanha) e no Hospital de Referência Veterinária Montenegro (Porto). Iniciou a sua atividade profissional em Outubro de 2014 no Centro de Imagem Montenegro e Hospital de Referência Veterinária Montenegro. Tem como principais áreas de interesse a Imagiologia, Neurologia e Medicina de Urgência, nos quais tem realizado vários cursos nacionais e internacionais.